segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Até três mulheres são presas por semana

LUANY DIAS (Jornal Folha de Boa Vista-12.10.09)

Nos últimos dois meses, têm aumentado significativamente o número de mulheres presas por tráfico de drogas. A cada semana, a Cadeia Pública Feminina de Boa Vista, em Monte Cristo, recebe entre duas a três mulheres para cumprirem pena por comercializarem entorpecente. Se esse ritmo continuar, o próximo ano iniciará com o dobro da capacidade de lotação na cadeia.O presídio feminino comporta 72 detentas e hoje está com a superlotação de 130 mulheres, sendo que 90% delas foram presas por tráfico de entorpecentes. Do total, há 78 preventivadas, 26 em regime fechado e 25 em regime semiaberto. Outras 11 estão em regime aberto, cumprindo pena domiciliar.A administradora da Cadeia Feminina, Sandra Regina Monteiro, disse que antes passavam semanas sem a entrada de novas detentas na Cadeia. Para ela, o que leva as mulheres optarem pelo tráfico de drogas é a forma de conseguir dinheiro fácil e a influência dos companheiros. “A maioria das re-educandas que estão no presídio foi detida no Beiral. Geralmente os companheiros delas são presos pelo mesmo motivo e as incentivam ao comércio ilegal”, relatou.A re-educanda Simone, que cumpre pena em regime fechado há dois anos, argumenta que falta emprego na cidade e muitas mulheres acabam por escolher essa alternativa de vida. “Muitas preferem comercializar drogas a se prostituírem”, complementou.Maria Rita, 25 anos, cumpre pena de seis anos e também está há dois em regime fechado. Ela contou ter se envolvido com o tráfico depois de conhecer o parceiro que já fazia esse tipo de comércio. “Fui pega vendendo droga no bar que eu tinha no Raiar do Sol. Tenho três filhos, de oito, nove e dez anos, e criava só o menor, que agora está com a minha mãe. Às vezes choro com saudades. Quando ele vem me visitar, pergunta: ‘Mamãe que lugar é esse?’ E eu respondo: ‘Estou presa meu filho, mas logo vou voltar para casa’”, narrou.A detenta, que já foi reincidente, disse à Folha que sempre teve consciência de que um dia poderia ser flagrada vendendo drogas e afirma que pretende mudar de vida quando deixar o presídio. “Eu sabia que a qualquer hora ia entrar [na cadeia]. Penso em quando sair nunca mais mexer com drogas, e quero estudar porque nunca frequentei a escola. Depende do querer se esforçar. O pior lugar para se viver é esse aqui”, declarou Maria Rita. Nair é uma das três detentas que estão com a guarda de criança na cadeia. Ela, junto a outras mulheres que cumprem pena em regime semiaberto ou pena alternativa, com limitação de fim de semana, fica em um local reservado chamado Ala das Mães, onde há o mínimo de conforto, em quartos com camas de solteiro para acomodar a mãe e o bebê. Elas também dispõem da cozinha para preparar o alimento do filho.Nair, com a criança de cinco meses no colo, anunciou à Folha que está grávida de dois meses. Este será o sétimo filho. Ela foi presa depois de dez anos de relaxamento da prisão. À época, tinha ficado presa por cinco meses, na antiga Penitenciária Agrícola, grávida do segundo filho. A detenta conta que está cumprindo pena em regime fechado de três anos. Ela foi presa por mandado de segurança, em abril desse ano, quando seu bebê tinha apenas 18 dias de nascido. Ela afirmou que mudou de endereço e não comunicou o sistema prisional por desconhecimento da lei.“De lá para cá nunca mais vendi drogas, aliás, nunca nem usei drogas. Na época, meu ex-marido foi preso na Guiana e eu peguei as drogas que ele tinha deixado em casa e continuei vendendo lá no Pintolândia. Mas sempre trabalhei como doméstica. Dessa vez fui presa porque fiquei como foragida”, disse.Nair contou que é liberada para ir à Cadeia Pública duas vezes ao mês para fazer visita íntima ao seu marido, que também está preso. “Nunca tomei remédio. Minha mãe já disse para eu me operar depois desse que estou esperando. Às vezes penso em fazer besteira, pelo menos saio dessa angústia de ficar aqui dentro”, falou emocionada.
Sem registro de tentativa de fugasNa Cadeia Pública Feminina, há detentas com sentença de mais de 20 anos de pena a cumprir, por terem sido presas com grande quantidade de drogas. Sandra Monteiro afirmou que, durante os dois anos e cinco meses que está à frente da administração, não houve nenhuma tentativa de fuga. Porém, por vezes ocorre o abandono de cumprimento de pena devido à ausência de transporte coletivo para o local.“Temos sentenciada com 22 anos de pena por ter traficado 150 Kg de drogas. Ela foi apreendida junto ao esposo e outros familiares e está cumprindo a pena há dois anos. Já as que estão em regime semiaberto ocorre de abandonarem o cumprimento da pena por não terem condições de pagar R$ 30 para virem de taxi à Cadeia Feminina”, frisou.Dependendo da pena, as detentas precisam passar de quatro a cinco anos em regime fechado para alcançar progressão para o regime semiaberto. No caso de regime aberto, como não há casa de albergadas, elas ficam em albergue domiciliar.
Detentas querem assistência jurídicaAlgumas das mulheres presas em regime de prevenção aguardam julgamento há dois anos e reclamam da morosidade da Justiça com os processos. Além disso, cobram maior assistência de defensores públicos. “Têm documentos que até agora aguardamos chegar, principalmente da 2ª Vara Criminal da Justiça Comum”, afirmou a administradora da Cadeia, Sandra Regina Monteiro. A detenta Simone disse que foi informada que, no próximo dia 16, está programado um mutirão pelos defensores públicos para a Cadeia Feminina. Ela reclama que eles dão mais assistência ao presídio masculino. “Esperamos que eles [defensores] venham mesmo, pois não temos visita deles frequentemente. Sabemos que não é falha da administração, porque isso vem de cima para baixo. Não sei qual é a minha situação porque há meses acabaram as minhas audiências e nunca tive os resultados”, reclamou Simone.

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